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A história indígena em sala de aula

Os povos indígenas do Brasil têm trajetórias, organização, língua e práticas culturais distintas. Essa pluralidade é expressão da vitalidade da cultura indígena. Admitir isso é fundamental para o reconhecimento dos indígenas enquanto agentes históricos.

Olhando atentamente para o lugar ocupado pela cultura indígena em nossos currículos escolares, veremos que a maioria de nós, sem perceber, reproduz os preconceitos do senso comum. Quando e como falamos dos ameríndios e de seus descendentes?

Muitas vezes eles são localizados na “pré-história” brasileira, considerados sem história, e a abordagem utilizada raramente valoriza os aspectos próprios dessas sociedades, como as suas organizações econômicas, políticas, religiosas e até mesmo sexuais. E mais: com a chegada dos europeus, os índios entram na História para rapidamente virem a desaparecer. Sem maiores distinções entre os diferentes povos indígenas, eles são classificados por suas relações com o colonizador – aliados ou inimigos, convertidos ou selvagens, aculturados ou bravios.

Após esse momento de contato inicial, salvo algumas exceções regionais, eles não mais são assunto de nossas aulas. Eliminados fisicamente, destinados ao extermínio, muitas vezes deixaram de ser vistos pela historiografia como sujeitos históricos. Diz-se que deles recebemos uma herança (e o termo remete ao que recebemos dos que não mais existem), manifesta no hábito do banho diário, de dormir em redes, da coivara (queima da terra antes do plantio) ou de algumas palavras incorporadas à nossa língua. E pronto!

Trabalhar em sala de aula a cultura indígena e, mais ainda, buscar afirmar o lugar de sujeitos históricos dos povos indígenas são excelentes oportunidades para romper o etnocentrismo que norteia nossa formação.

É preciso dar-lhes identidade e voz. Os povos que habitam a região amazônica e os que vivem no Rio Grande do Sul não são os mesmos. Nunca o foram. Sua cultura, sua organização social, suas relações com a natureza também se alteraram ao longo do tempo. Sobre esse assunto já há uma bibliografia consagrada e muitos sites, vídeos e textos produzidos pelos diferentes povos, como alguns dos indicados na bibliografia.

Ao longo do curso, você poderá ir dialogando com a presença indígena em vários momentos. Mas é preciso cuidado, pois a cultura indígena não deve ser inserida em nossas aulas através de uma perspectiva saudosista. Ao contrário, é fundamental que os alunos conheçam a permanência e as dificuldades desses povos do Brasil do século XXI.

Por iniciativa de várias etnias, já podemos ter o registro da visão que alguns grupos tiveram do contato do português e da relação que foram construindo ao longo dos anos. Como leram o mundo branco, como se relacionaram com as guerras em que tomaram parte ou com a construção de Brasília ou da Transamazônica, por exemplo.

Um traço marcante da cultura indígena é o íntimo conhecimento da natureza, de como aproveitá-la nos mais diversos usos, sem, contudo, destruir o meio ambiente. Alimentos, remédios, fibras, hoje tão procurados pela indústria, são usados centenariamente pelos povos originais. Esse é um aspecto interessante a ser explorado em suas aulas. A forma como os adultos transmitem ensinamentos aos jovens, responsável pela longevidade das culturas, mostra uma eficiência que nossas instituições escolares não apresentam. Levar seus alunos a conhecerem esse aspecto da cultura indígena é, ainda que só por isso, um espaço rico de produção de crítica. Sempre que possível vale trazer para a sala depoimentos dos próprios índios. Com a ajuda dos seus alunos, construam um banco de vídeos existentes na Internet. Você vai se surpreender com o resultado.

Índios caiapós na aldeia Kikretun, em Tucumã, no Pará. Créditos: Paulo Jares. Festa da Taquara na aldeia da tribo Yawalapiti, no Alto do Xingu, em 1999. Créditos: Paulo Jares.
Festa da Taquara na aldeia da tribo Yawalapiti, no Alto do Xingu, em 1999. Créditos: Paulo Jares. Índios caiapós na aldeia Kikretun, em Tucumã, no Pará. Créditos: Paulo Jares.

Indígenas Guarani – Tomando como ponto de partida um trabalho fotográfico com os índios Guarani de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso, esse site busca discutir fotografia e ensino de história a respeito dos povos indígenas.
Índios on line – Site com informações variadas sobre os índios no Brasil.
Instituto das Tradições Indígenas – Organização não governa–mental criada e dirigida por pessoas indígenas de várias etnias.
Os índios na história do Brasil – Site organizado pelo professor John Monteiro.
Povos indígenas no Brasil – Site do Instituto Socioambiental.

JECUPÉ, Kaka Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. 2. ed. São Paulo: Fundação Peirópolis, 1998. (Série Educação para a Paz.)
MONTEIRO, John. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
PATAXÓ, Katão. Trioká Hahão Pataxi: caminhando pela história Pataxó. Salvador: Santa Helena, 2001.
SCHWARTZ, Stuart B. Da América portuguesa ao Brasil. Lisboa: Difel, 2003.
SILVA, Aracy Lopes da & GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (orgs.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de primeiro e segundo graus. Brasília: MEC-Mari-Unesco, 1995.
SILVA, Aracy Lopes da & FERREIRA, Mariana Kawall (orgs.).Antropologia, História e Educação: a questão indígena e a escola. São Paulo: Global-Mari, 2001.