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História e literatura: parceiros inseparáveis

 

Paixão e mistério, aventura e imaginação, componentes do universo juvenil e indissociáveis da História. Uma proposta para juntá-los e fazer da sala de aula o lugar do encantamento.

Existem obras que, ao longo das gerações, cumpriram o papel de iniciar os jovens na leitura. Seus autores escolheram enredos movimentados, recheados de ação, romance, perigo e mistério. Jovens que dificilmente teriam a chance de alguma vez na vida visitarem lugares exóticos, ou percorrerem caminhos que os levassem muito distantes de seus lugarejos natais, podiam, graças à imaginação dos autores e ao barateamento do custo dos livros, ouvir o tilintar das espadas, odiar cruéis vilões e apaixonar-se perdidamente por sensuais beldades.

Elas eram lidas, por vezes, após a refeição noturna, sob a luz de candeeiros. O leitor, com a voz empostada, lia para todos. Os ouvintes podiam interromper com comentários, pedidos de esclarecimento de partes obscuras, alguma chacota e piadas. Nas partes mais empolgantes, todos poderiam suster o fôlego. Uma velha avó, enquanto tricotava, permitia que as lágrimas brotassem ao ouvir os sofrimentos infligidos por homens invejosos contra o bom Edmond Dantes em O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas; um menino facilmente se imaginaria descendo o rio caudaloso a bordo de uma canoa, remando no mesmo ritmo do guia Hawkeye e do índio Uncas, de O último dos moicanos, escrito por James F. Cooper.

Havia ainda a leitura solitária. Não, o termo não é adequado. O melhor é dizer “ler sem estar em companhia de outros”, pois quem lê nunca está sozinho de verdade. Está em companhia do autor e de seus personagens, quer dizer, está em muito boa e rumorosa companhia.

Por meio de tais livros, temas relativos à História, à Geografia, à Etnologia ou às Ciências em geral eram abordados e explicados. Aguçava-se a curiosidade, mas a principal intenção da maioria dos autores não era “ministrar aulas” ou nenhuma coisa do gênero. Era apaixonar o leitor pela sua narrativa.

Mantidos os pressupostos, isto é, assegurados o prazer e o envolvimento na atividade, talvez possamos retomar o cruzamento entre os clássicos para jovens e a História. Durante 20 minutos de sua aula, abandone a formação de cadeiras rotineiras e permita que seus alunos se reúnam em um canto da sala. Se houver almofadas, melhor. Se não, as mochilas terão a mesma utilidade. Combine com o professor de Língua Portuguesa e com o de Geografia, para que a história possa ser mais rapidamente contada, e leia com eles e para eles.

Sugerimos abaixo uma pequena lista de livros que permitem fazer uma relação entre Literatura e História de forma prazerosa:

  • Agosto, de Rubem Fonseca – Romance sobre os últimos dias do governo de Getúlio Vargas.
  • As 1001 noites – Narrativas clássicas que permitem traçar um painel do antigo mundo árabe.
  • Baudolino, de Umberto Eco – Romance picaresco ambientado na época das Cruzadas, traça um ótimo painel do mundo medieval europeu.
  • A comédia humana, de Honoré de Balzac – Conjunto de 88 obras do escritor francês, por meio das quais se tem ótimo retrato da França do século XVIII.
  • Dom Quixote, de Miguel de Cervantes – Clássico da literatura mundial que satiriza os romances de cavalaria.
  • Esaú e Jacó, de Machado de Assis – Por meio da história de dois irmãos gêmeos rivais, temos um painel do Brasil na passagem do Império para a República.
  • Galileu Galilei, de Bertolt Brecht – Peça na qual o dramaturgo se utiliza do pretexto de abordar a história do cientista Galileu Galilei para discutir o totalitarismo na Europa do século XX.
  • Ivanhoé, de Walter Scott – Romance que conta a história do rei Ricardo Coração de Leão e as disputas pelo trono da Inglaterra no século XI.
  • Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida – Romance que traça, de forma picaresca, o Rio de Janeiro do início do século XIX, com foco voltado para as camadas mais baixas da população.
  • O auto da barca do inferno, de Gil Vicente – Peça de teatro que faz uma sátira dos hábitos e costumes da sociedade europeia no início da Idade Moderna.
  • O tempo e o vento, de Érico Veríssimo – Quase 300 anos da história do Rio Grande do Sul contados através da história de duas famílias gaúchas, Terra e Cambará.
  • O retrato do rei, de Ana Miranda – O Brasil na época do ouro e a Guerra dos Emboabas são abordados nesse romance.
  • A revolução dos bichos, de George Orwell – A história dos animais que se revoltam contra os proprietários de uma fazenda é uma alegoria da Revolução Comunista de 1917, na Rússia.
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Manuscrito do soneto “Círculo vicioso”, de Machado de Assis, que integra coleção de Pedro Corrêa do Lago. Crédito: Frederic Jean / Editora Abril.

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RUIZ, Rafael. Novas formas de abordar o ensino de História. In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008.