Categories Menu

Patrimônio e turismo educativo

 

Devemos aproveitar as viagens que fazemos com os alunos para trazer para a sala de aula discussões sobre a importância de se conhecer nossos patrimônios material e imaterial.

A vida moderna é vida em movimento. Não é só o avanço dos meios de transporte, mas o vídeo, o DVD, a internet, o videoclipe. Vivemos a mais de 24 quadros por segundo quase desde o nascimento e as distâncias, em muitos lugares, sofreram um brutal encurtamento. Tais mudanças afetam significativamente o ensino de História.

Hoje, ao falarmos da política, sociedade, economia e cultura de um povo que se encontra a quilômetros de distância da sala de aula, devemos pensar que, com algumas horas de voo ou, mesmo, com um simples clique no mouse, poderemos estar em contato com esse Outro apresentado e discutido. Quem pode hoje, verdadeiramente, dizer que o Japão fica do outro lado do mundo para os nossos alunos?

É claro que não podemos perder a dimensão econômica dessas possibilidades, num país de imensas desigualdades sociais como o Brasil. Muitos ainda não encontram oportunidade de deslocamento, seja físico, através de viagem, seja imaginário, através do cinema ou da internet.

Por outro lado, nós, professores, por diversas vezes, organizamos passeios nos quais os alunos são simples turistas, tiram fotos, compram lembrancinhas e “divertem-se”. Concordando com o educador Célestin Freinet, entendemos o processo de ensino-aprendizagem obrigatoriamente articulado a um trabalho real. Partindo dessa premissa, identificamos as aulas-passeios como exemplos interessantes desse trabalho real. Mas como organizar um passeio com viés de turismo educativo e cultural?

Interior da Catedral de Brasília, obra do arquiteto Oscar Niemeyer.

Interior da Catedral de Brasília, obra do arquiteto Oscar Niemeyer.

Primeiramente, é importante conhecer o local a ser visitado, pois o turismo educativo pressupõe um público bem informado e um viajante com “espírito descobridor”. Assim, antes do passeio em si, estimule seus alunos, mostre fotos, reportagens, vídeos, lendas sobre o local a ser visitado. Lembre-se de que a experiência turística é fortemente visual.

Outra atividade interessante é elencar locais que já foram visitados pelos alunos em companhia de suas famílias. A partir desse levantamento, procure destacar o que eles mais lembram dessas viagens e, na aula seguinte, leve exemplos de patrimônios materiais e imateriais dessas regiões, interprete-os e mostre a eles que vários desses patrimônios podem ter passado despercebidos nessas viagens porque os olhos dos alunos não estavam ainda preparados para vê-los.

A atividade turística de fundo pedagógico é um dispositivo enriquecedor para o ensino de História, pois tem sua ênfase na interpretação do patrimônio. Tal interpretação caracteriza-se por uma dupla função de valorização: a valorização da experiência do visitante e a do próprio patrimônio em si. Assim, mais que informar sobre determinada região ou prática cultural, a interpretação do patrimônio tem como objetivo convencer as pessoas do seu valor, da grandiosidade de suas histórias.

Rua de São Luís, no Maranhão, com seu casario histórico.

Rua de São Luís, no Maranhão, com seu casario histórico.

No retorno da viagem, com a turma dividida em grupos, proponha uma atividade na qual os alunos simularão reivindicar ao Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – a inclusão da região visitada como patrimônio nacional. Eles deverão escrever uma carta ao ministro da Cultura e ao diretor do órgão demonstrando o que o Brasil ganharia com a elevação daquela região à condição de patrimônio. Deverão representar, com documentos sonoros, fotográficos, vídeos e depoimentos, os argumentos para a preservação do lugar ou da prática a que tiveram acesso.

Feito o dossiê, ele não precisa necessariamente ser enviado. A própria turma poderá julgar qual, entre os projetos apresentados, reuniria melhores condições de representar a posição de todos.

subtit_valepena

Iphan – Site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

subtit_bibliografia

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005.